quinta-feira, 13 de março de 2008



À nossa idéia inerte e desinteressada da arte uma cultura autêntica opõe uma idéia mágica e violentamente egoísta, ou seja, interessada. Pois os mexicanos captam o Manas, as forças que dormem em todas as formas, e que não podem surgir de uma contemplação das formas em si mesmas, mas somente de uma identificação mágica com essas formas. E os velhos Tótens estão lá para acelerar a comunicação.
Quando tudo nos leva a dormir, olhando com olhos fixos e conscientes, é duro despertar e olhar as coisas como em um sonho, com olhos que não sabem mais para que servem, e cujo olhar está voltado para dentro.
É assim que nasce a estranha idéia de uma ação desinteressada, mas que é ação de qualquer maneira, e mais violenta por aproximar-se da tentação de repouso.
Toda verdadeira efígie tem sua sombra que a duplica; e a arte surge a partir do momento em que o escultor que modela crê liberar uma espécie de sombra cuja existência atormentará seu repouso.
Como toda cultura mágica que os hieróglifos apropriados estabelecem, o verdadeiro teatro também tem suas sombras; e, de todas as linguagens e de todas as artes, ele é o único que ainda possui sombras que romperam com suas limitações. E podemos dizer que, desde a sua origem, elas não suportaram limitações.
Nossa idéia petrificada do teatro junta-se à nossa idéia petrificada de uma cultura sem sombras, onde, para qualquer lado que se volte nosso espírito, não encontramos senão o vazio, quando de fato o espaço está pleno.
Mas o verdadeiro teatro, porque se move e porque se serve de instrumentos vivos, continua a agitar as sombras onde a vida jamais deixou de existir. O ator que não repete o mesmo gesto duas vezes, mas que faz gestos, se move, e certamente brutaliza as formas, mas por trás dessas formas, e através da sua destruição, encontra aquilo que sobrevive às formas e produz a sua continuação.

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