quinta-feira, 23 de abril de 2009

Me salve, Jorge!


St. George and the Princess Sabra - Dante Gabriel Rossetti

terça-feira, 7 de abril de 2009

"Diante da palavra III"



A fala avança no escuro.
O espaço não se estende mas se escuta.
Pela fala, a matéria está aberta, crivada de palavras;
O real ali se desdobra.
O espaço não é o lugar dos corpos; ele não nos serve de apoio.
A linguagem o carrega agora diante de nós e em nós,
visível e oferecido, tenso, apresentado, aberto pelo drama
do tempo no qual estamos com ele suspensos.
O que há de mais bonito na linguagem é que passamos com ela.
Tudo isso não é dito pelas ciências comunicativas mas nós
sabemos muito bem disso com nossas mãos na noite:
que a linguagem é o lugar do aparecimento do espaço.


(Valère Novarina)

domingo, 5 de abril de 2009

"Diante da palavra II"


Falar não é comunicar. Falar não é tocar nem fazer escambo - das idéias, dos objetos -,
falar não é se exprimir, designar, esticar uma cabeça tagarela na direção das coisas,
dublar o mundo com um eco, uma sombra falada;
falar é antes abrir a boca e atacar o mundo com ela, saber morder.
O mundo é por nós furado, revirado, mudado ao falar.
Tudo o que pretende estar aqui como um real aparente pode ser por nós subtraído ao falar.
As palavras não vêm mostrar coisas, dar-lhes lugar, agradecer-lhes educadamente
por estarem aqui, mas antes partí-las e derrubá-las.



(Valère Novarina)

'Diante da palavra'


"Eis que agora os homens trocam entre si palavras como se fossem ídolos invisíveis,
forjando nelas apenas uma moeda: acabaremos um dia mudos de tanto comunicar;
nos tornaremos enfim iguais aos animais, pois os animais nunca falaram mas sempre comunicaram muito-muito bem. Só o mistério de falar nos separava deles. No final,
nos tornaremos animais: domados pelas imagens, emburrecidos pela troca de tudo,
regredidos a comedores do mundo e a matéria para a morte.
O fim da história é sem fala."



(Valère Novarina)