sexta-feira, 25 de março de 2011

O Lago

















O cheiro da terra sobe, remoída.
Os braços do homem cavam, cansam. Ele sente o cansaço da terra.
Sente o cheiro dos frutos que hão de vir e perfura o humor feminino do pó que devolve em alimento os restos do universo.
Cava.
Cava.
Cava.
Revira as tripas da velha Senhora que traga os cadáveres, sua mais antiga companheira acariciando-lhe os pés quando ele anda sobre o mundo.
Ele, arduamente, vai abrir-lhe um grande buraco e inundá-la com o frescor e o silêncio profundo da água que traz os sentimentos inscritos no seu escoar.
A velha Mulher vai reter-lhe, em frêmitos ancestrais, criando fundo uma morada de mistérios e sussurros...
E, toda vez que ele se sentar ao lado do silêncio das suas águas, a Grande Senhora, fará surgir, sedutoramente,
um espelho onde ele verá refletido os seus próprios segredos que Ela conhece desde quando o trouxe de longe, dobrado, carnado, feito no vinho.


 (Dedicado à Alexandre Guimarães Mendes e à todos os homens que estão construindo um lago, em seu jardim, com suas mãos na terra)

Concerto in D Major







































É que muitas vezes eu sinto assim, em adágio.
 

Meus olhos lançam um suspiro de água.
 

O peito vibra um sentimento volátil. Os olhos se fecham imaginando violinos.
 

Meus músculos se rendem, absortos, pendidos de um fio 
que dança em algum lugar onde venta.
 

Percorro promessas infundidas na respiração das palavras escritas no poema de alguém que amou e que não existe mais...
 

O universo desabafa esses amores nas cortinas que voam em janelas abertas. Ouço-os, às lufadas, em alvoroços amarelados no tempo.
 

Meu coração encosta na paisagem onde você está e... suavemente, se deita.