O cheiro da terra sobe, remoída.
Os braços do homem cavam, cansam. Ele sente o cansaço da terra.
Sente o cheiro dos frutos que hão de vir e perfura o humor feminino do pó que devolve em alimento os restos do universo.
Cava.
Cava.
Cava.
Revira as tripas da velha Senhora que traga os cadáveres, sua mais antiga companheira acariciando-lhe os pés quando ele anda sobre o mundo.
Ele, arduamente, vai abrir-lhe um grande buraco e inundá-la com o frescor e o silêncio profundo da água que traz os sentimentos inscritos no seu escoar.
A velha Mulher vai reter-lhe, em frêmitos ancestrais, criando fundo uma morada de mistérios e sussurros...
E, toda vez que ele se sentar ao lado do silêncio das suas águas, a Grande Senhora, fará surgir, sedutoramente,
um espelho onde ele verá refletido os seus próprios segredos que Ela conhece desde quando o trouxe de longe, dobrado, carnado, feito no vinho.
(Dedicado à Alexandre Guimarães Mendes e à todos os homens que estão construindo um lago, em seu jardim, com suas mãos na terra)