quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pensando em fRaGmento - II



"Eis que agora os homens trocam entre si palavras como se fossem ídolos invisíveis, forjando nelas apenas uma moeda: acabaremos um dia mudos de tanto comunicar; nos tornaremos enfim iguais aos animais, pois os animais nunca falaram mas sempre comunicaram muito-muito bem. Só o mistério de falar nos separava deles. No final, nos tornaremos animais: domados pelas imagens, emburrecidos pela troca de tudo, regredidos a comedores do mundo e a matéria para a morte. O fim da história é sem fala."

(Valère Novarina - trecho do livro "Diante da palavra")

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Pensando em fRaGmento


"Sem muito orgulho de ter um corpo que se vê,
eu tinha sobretudo muita vergonha de ter que lhes deixar
depois de minha morte um corpo que fica;
só de pensar em vê-lo como despojos eu já sentia vergonha por ele.
Minha mãe dizia: Dá-o à terra!
Eu pensava: Pois tomara que ela aceite!
Eu aspirava ser de madeira breve, ou rubifão,
plástico elastificado ou de metal metalurizado,
e não em carne que vai a lugar nenhum."

(Valère Novarina)