terça-feira, 11 de novembro de 2008

O ator deve desaparecer


Considerando essa preferência por ser "invisível", por que diabos quis eu ser logo ator, alguém que, justamente, tem de se revelar em público? Perguntei-me isso durante muitos anos e só agora, pouco a pouco, estou conseguindo entender o porquê. Interpretar, para mim, não é algo que está ligado a me exibir ou exibir minha técnica. Em vez disso, é revelar, através da atuação, "algo mais", alguma coisa que o público não encontra na vida cotidiana. O ator não demonstra isso. Não é visivelmente físico mas, através do comprometimento da imaginação do espectador, "algo mais" irá surgir na sua mente. Para que isso ocorra, o público não deve ter a mínima percepção do que o ator estiver fazendo. Os espectadores têm de esquecer o ator. O ator deve desaparecer.
No teatro kabuki, há um gesto que indica "olhar a lua" quando o ator aponta o dedo indicador para o céu. Certa vez, um ator, que era muito talentoso, interpretou tal gesto com graça e elegância. O público pensou: "Oh, ele fez um belo movimento!" Apreciam a beleza de sua interpretação e a exibição de seu virtuosismo técnico.
Um outro ator fez o mesmo gesto; apontou para a lua. O público não percebeu se ele tinha ou não realizado um movimento elegante; simplesmente viu a lua.
Eu prefiro este tipo de ator: o que mostra a lua ao público. O ator capaz de se tornar invisível. Os atores devem trabalhar duro para se desenvolverem fisicamente, não com a simples finalidade de adquirir habilidades que possam ser exibidas ao público, mas com a finalidade de serem capazes de sumir.
Havia um famoso ator de kabuki, que morreu há cerca de 50 anos, que dizia:
"Posso ensinar-lhe o padrão gestual que indica 'olhar para a lua'. Posso ensinar-lhe como fazer o movimento da ponta do dedo que mostra a lua no céu. Mas da ponta do seu dedo até a lua, a responsabilidade é inteiramente sua."


(do livro "O Ator Invisível" de Yoshi Oida - na foto, Kazuo Ohno)

domingo, 9 de novembro de 2008

Da liberdade






















"Desde o início sempre dancei minha vida."

"A beleza da arte não é feita de ornamentos, mas daquilo que flui da alma humana inspirada e do corpo que é seu símbolo..."

“Comecei a observar o rosto das senhoras casadas, amigas de minha mãe, e não houve um em que eu não achasse a marca do monstro de olhos verdes e os estigmas da escravidão. E fiz o voto de jamais me rebaixar a situação tão degradante, ainda que isso viesse me custar, como de fato veio, uma quebra de relações com minha mãe e a incompreensão do mundo”

Isadora Duncan

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"Somos conduzidos para um mundo de poesia impossível de descrever com palavras"


"Não me interesso pelo pensamento lógico, racional. Estou preocupado em questionar o espírito. Acho que a própria vida inclui algo de louco, de incompreensível, que escapa ao pensamento racional. Por exemplo, no momento da concepção existem milhões de espermatozóides tentando fecundar um óvulo, mas apenas um consegue. É puro acaso. É a mais completa desordem. Não há organização alguma. Sob o ponto de vista racional, isso é louco. Entretanto, sob o ponto de vista espiritual, essa imponderabilidade, esse acaso, é muito importante. Quando a arte tenta surgir do pensamento lógico, racional, não tem sentido. A única maneira de fazê-la aflorar é através do espírito. Penso que a arte é o nível mais alto a que pode chegar a expressão humana. E o seu principal objetivo é transformar a vida. A arte é sempre profundamente relacionada com a vida e a morte, a alma e o corpo. Algumas vezes é impossível ao pensamento lógico compreender isso. A arte tenta desvendar o mistério de viver e morrer."

Kazuo Ohno

Pausa

"Toda a arte, de uma certa forma, seja ela pintura, música, está sempre interessada em apenas dois temas: a liberdade e o amor, em todos os tempos. Então, o meu teatro também. A gente precisa expandir nossos limites, tanto como pessoas, como os limites da comunidade, os limites do Estado. Nossa função, enquanto estamos aqui na Terra, é expandir esses limites, para que a próxima geração expanda os dela, e a humanidade evolua espiritualmente. Nós somos apenas um elo nessa cadeia de evolução. Estar aqui e deixar que os limites se cristalizem, é fazer pouco. Precisamos expandir esses talentos que estão sufocados."

(Denise Stoklos)