quinta-feira, 13 de março de 2008



Pode-se queimar a biblioteca de Alexandria. Acima e além dos papiros, existem forças: podem nos roubar durante algum tempo a faculdade de reencontrar essas forças, mas não podem suprimir a sua energia. E é bom que muitas das grandes facilidades desapareçam e que certas formas caiam no esquecimento; assim a cultura sem espaço nem tempo contida em nossa capacidade nervosa ressurgirá com uma energia amplificada. E é justo que de tempos em tempos se produzam cataclismas que nos incitem a retornar à natureza, ou seja, a reencontrar a vida. O velho totemismo dos animais, das pedras, dos objetos utilizados para aterrorizar, das vestimentas bestialmente impregnadas, em uma palavra tudo o que serve para captar, dirigir e desviar as forças, é para nós uma coisa morta, da qual sabemos apenas tirar um proveito artístico e estático, um proveito de fruidor e não um proveito de ator.
Ora, o totemismo é ator porque se move, e é feito para atores; e toda verdadeira cultura apoia-se sobre os meios bárbaros e primitivos do totemismo, cuja vida selvagem, ou seja, inteiramente espontânea, quero adorar.
O que nos fez perder a cultura foi nossa idéia ocidental da arte e o proveito que dela tiramos. Arte e cultura não podem andar juntas, contrariamente ao uso que universalmente se tem feito delas!

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