quinta-feira, 13 de março de 2008

Por falar em cultura, Artaud em 7 etapas!



O teatro e a cultura


Antonin Artaud

Jamais, quando é a própria vida que nos foge, se falou tanto em civilização e em cultura. Há um estranho paralelismo entre essa destruição generalizada da vida, que encontra-se na base da desmoralização atual, e a preocupação com uma cultura que jamais coincidiu com a vida, e que é feita para governar sobre a vida.
Antes de retornar à cultura, observo que o mundo tem fome, e que ele não se preocupa com a cultura; e que é apenas de maneira artificial que se quer dirigir para a cultura pensamentos que estão voltados unicamente para a fome.
O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura idéias cuja força viva seja idêntica à da fome.
Nós temos necessidade sobretudo de viver e de acreditar naquilo que nos faz viver e que alguma coisa nos faz viver ¤ e aquilo que sai do misterioso interior de nós mesmos não deve retornar perpetuamente sobre nós mesmos, em uma preocupação grosseiramente digestiva.
Quero dizer que se para todos nós é importante comer, e já, nos é ainda mais importante não desperdiçar nesta única preocupação imediata de comer nossa simples força de ter fome.
Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as idéias, os signos que são a representação dessas coisas.
Certamente não são sistemas de pensamento que nos faltam; o seu número e as suas contradições caracterizam nossa velha cultura européia e francesa: mas quando é que a vida, a nossa vida, foi afetada por esses sistemas?
Não diria que os sistemas filosóficos são algo que se possa aplicar direta e imediatamente; mas das duas, uma:
Ou esses sistemas estão em nós e somos impregnados por eles a ponto de viver deles, e neste caso o que importam os livros? ou nós não somos impregnados por eles, e neste caso eles não merecem nos fazer viver; e de qualquer forma, que importa seu desaparecimento?

7 comentários:

Mayra Kinte disse...

Êba...atualizações. Adoro!

Comecei a ler, mas como está tarde demais, voltarei para terminar minha leitura, que estava muito prazerosa apesar do sono.
Vejo que tenho muitas coisas interessantes para aprender e que esse cantinho aqui é uma fonte para toda essa minha sede!

Beijos, Maricota ;)

Eleonora Marino Duarte disse...

primeiro: evoé baco! e mais as ninfas todas que por ele derramam liras infinitas de desejo e poesia!

depois, fico no ácido desértico de artaud:
"O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura idéias cuja força viva seja idêntica à da fome."

brilhante dona joice marino, brilhante!

soma-se aqui os seus preciosos artigos!

um beijo atualizado...

Joice Marino disse...

Querida Maricota,

Por isso mesmo coloquei a leitura em etapas. Assim pode-se ler um trechinho a cada dia, não é legal?
E ir dicutindo nos comentários. =)

Que bom que gostou e que temos a mesma sede, né Cotinha minha?

Beijos da sua Chica.

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Betina minha irmã querida,

Presença tão maravilhosa na minha vida,

Um café? =)

Beijos, te amo.

Mayra Kinte disse...

Sim, assim fica bem melhor com essa coisa dos comentários...

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Essa página tá cheia de preciosidades :)

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Beijos, na Dona Chica e na Dona Poeta!

Eleonora Marino Duarte disse...

café, joice, artaud e maricota, agora, já!!!

Chiquinha Chicória disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ManinhaChica disse...

Suas mais belas idéias.
Adoro isso tudo!
Tô louca pelas poesias.
Bora, bora!!
Vamos florir o blog do teatro com o bom gosto de Joice Marino e a voz silenciosa da Bethania.
1,2,3 e já!