quinta-feira, 13 de março de 2008



É necessário insistir sobre esta idéia da cultura em ação e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração: e a civilização é a cultura que se impõe e que rege até mesmo nossas ações mais sutis, é o espírito que se encontra nas coisas; e é de maneira artificial que se separa a civilização da cultura, e que há duas palavras para significar uma única e idêntica ação.
Julgamos um civilizado pelo modo como ele se comporta, e ele pensa da maneira como se comporta; mas já sobre a palavra civilizado existe uma confusão; para todo o mundo, um civilizado culto é um homem esclarecido quanto aos sistemas, e que pensa através de sistemas, de formas, de signos, de representações.
É um monstro em quem se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos, em vez de identificar nossos atos com nossos pensamentos.
Se falta amplitude à nossa vida, ou seja, se lhe falta uma constante magia, é porque gostamos de observar nossos atos e de perder-nos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos atos, em vez de sermos impelidos por eles.
E essa faculdade é exclusivamente humana. Diria mesmo que é essa infecção do humano que nos estraga certas idéias que deveriam permanecer divinas; pois, longe de acreditar no sobrenatural e no divino inventados pelo homem, creio que foi a intervenção milenar do homem que acabou por nos corromper o divino.
Todas as nossas idéias sobre a vida devem ser modificadas, numa época em que nada mais adere à vida. E essa penosa cisão é motivo para que as coisas se vinguem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos mais encontrar nas coisas ressurge de repente pelo lado mau das coisas; e jamais se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só pode ser explicada por nossa impotência em possuir a vida.
Se o teatro existe para permitir que nossos recalques tomem vida, uma espécie de atroz poesia se exprime através de atos bizarros, onde as alterações do fato de viver demonstram que a intensidade da vida permanece intacta, e que bastaria melhor dirigi-la.

9 comentários:

Mayra Kinte disse...

Acho que a referência dele à "fome" tem um contexto mais amplo do que à fome por alimentos, propriamente dita...

Mayra Kinte disse...

concorda ou sem-corda?

Joice Marino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Chiquinha Chicória disse...

Êba! Pensar, descobrir!

Até que enfim....(risos)

Maricota, no meu entender, ele se refere a fome como uma necessidade de suprema importância para a sobrevivência e que tem uma força brutal no ser humano.E aí acho que ele se refere mesmo a fome, fora de metáforas.

Imagina a cultura ocupar em nós, com a mesma intensidade, este lugar? Imagina nós morremos por falta de cultura?

A cultura ser uma necessidade das mais básicas, ou melhor, vitais.

"(...)extrair disso que se chama de cultura idéias cuja força viva seja idêntica à da fome."

Será que estou viajando? =P

Depois ele diz, mais para frente:

"É necessário insistir sobre esta idéia da cultura em ação e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração"

Acredito muito nisso e acho, que através da cultura, pode-se até acabar com a fome.
Pode-se tudo, se ela for um a necessidade viva, em ação, como o ato fundamental de alimentar-se. Pois que isso também é alimento, agora sim, com matéfora.

Mas vamos relendo e falando?
Betina...quer entrar nessa?

Acho que podemos comentar até mesmo por blocos. O que acham?

Alô...alguém?
Pii....Pi...Pi...
Solaris chamando...piiiiiiiiii...

Aguardando novos contatos...=D

Anônimo disse...

Esse é um dos textos mais essenciais que eu conheço e é muito bom vê-lo sendo tão bem tratado. =)

pi... pi... pi... =P

Mayra Kinte disse...

Estou com você, Chiquiha! ;P

Vamos mais abaixo!

Chiquinha Chicória disse...

Gente,

Perdôem-me os erros de digitação.
Mas vamos em frente.

Solaris! Você veio! Ah, o que um chamado adequado não faz, não é mesmo?
Satisfação em vê-lo manifestando-se, fora da minha cabeça que insiste(!)em você. =* =)


Maricota...vamos sim...e sugiro que antes de mais nada, se e´que você já não fez isso, dê uma passadinha na postagem anterior que tem o link para o blog do Chico. E, se tiver tempo, procura pelo blog dele a série cultura.
Assim poderemos ler este texto belíssimo de Arthaud e afinar nossas idéias.

Beijo, nos dois.

Unknown disse...

Evoé Baco!

Bom, me apresentei lá embaixo, em outro comentário, mas tinha me esquecido de cumprimentar o vosso hóspede!

Então: Evoé Baco!Evoé!

Arthaud é muito impressionante.

Vou voltar e comentar um por um, se me permite.


Infelizmente agora estou no trabalho.

Vou dar uma volta nos links também.
Será que isso será minha iniciação na coqueluche dos blogs? rsrsrs...

Se for, que seja. (perdão, a frase e péssima mas eu adoro)

Um abraço a todos.

Chiquinha Chicória disse...

Felipe,


Seja bem vindo
Comente o quanto quiser, quanto mais melhor.

Bom, se vai ser o início de sua peregrinação por blogs eu não sei, mas garanto que os links que tenho no meu, são de grande valor, valherá a pena.

Abração. =)